Quarenta em quarentena é um projeto ambicioso: em plena pandemia de COVID-19, a editora Oficina Raquel convidou 40 autores e autoras para realizarem a transposição artística da temática que se tornou dominante na vida de toda a humanidade em 2020. Escritas no calor da hora, mas em estágios diferentes da pandemia, como é possível notar a partir da leitura das histórias, as produções abordam a finitude e a tristeza, mas também a esperança e o afeto.
O volume começa pelo Fim – paradoxo simbólico da tragédia humanitária vivida –, que dá nome à primeira parte do livro. Godofredo de Oliveira Neto, Gonçalo M. Tavares, Jeferson Tenório, Jorge Marques, Marcos Pasche, Marisa Oliveira, Pedro Eiras e Thiago Carbonel tratam de fins não apenas físicos, mas simbólicos. Em outras palavras, os autores, em seus textos, abordam não apenas a morte de pessoas, mas também de sonhos, crenças, ilusões.
A segunda parte do livro, denominada Medo, trata do sentimento que, segundo Drummond, “esteriliza os abraços”. O verso do poeta mineiro, quase premonitório para a vida em 2020, dá a tônica dos belos textos engendrados por Beatriz Roscoe, Cidinha da Silva, Divanize Carbonieri, José Roberto Torero,
Luciano Nascimento e Luiz Guilherme Barbosa.
Se a vida moderna fez-se marcada pela celeridade do tempo, mais do que nunca, em 2020, o espaço é a tônica da existência humana. Afinal de contas, a quarentena faz os indivíduos repensarem a sua relação não apenas com seus pares, mas também com o mundo em que habitam. A Solidão causada pelo confinamento é o tema da terceira parte do livro, que traz produções primorosas de Adriana Armony, Anna Maria Mello, Dani Balbi, Flávia Six, Júlio Emílio Braz, Leonardo Neto, Luis Maffei, Luiz Roberto Guedes, Rogério Athayde, Silviano Santiago e Silvia Barros.
A quarta parte do livro, denominada Amor, explicita o fato de que o sentimento, em todas as suas variações – seja o amor filial, fraternal, sexual – não se deixa podar pelos limites impostos pela pandemia. Entram em cena as primorosas histórias de André Argolo, Camila Perlingeiro, ElikaTakimoto, João Pedro Fagerlande, Monique Brito, Patrícia Nogueira, Ramon Ramos e Sonia Rosa.
O livro termina com o Começo, fato que, definitivamente torna sua organização marcada pelo otimismo. Talvez, assim, toda a tragédia vivida nos traga começos simbólicos e variados. É com esse tom de esperança que finaliza o volume os textos de Alex Castro, Anna Claudia Ramos, Antônio Schimeneck, Henrique Rodrigues e Luciany Aparecida.
O volume, iniciado e encerrado por incursões poéticas, respectivamente escritas por Maria Teresa Horta e Leonardo Tonus, reforça uma marca indelével da Oficina Raquel: o diálogo entre autores do Brasil e de Portugal. É, portanto, extremamente eficaz e proveitoso que as palavras emitidas de bordas diferentes do Atlântico encontrem-se aqui.
Quarenta em Quarentena– 40 visões de um mundo em pandemia se insere na tradição de grandes antologias da literatura. Ainda que não deixe de ser o registro de um momento histórico conturbado da história humana, é, antes de tudo, obra na qual o leitor poderá ler textos que misturam, na exata medida, a excelência da palavra artística com emoção, criatividade e sensibilidade.
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