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Antropoceno, Gaia e Ecofeminismo

Conexão entre o cuidado e a natureza: os mesmos adjetivos causadores da violência
contra os corpos femininos também levam às mazelas ambientais.

O Antropoceno corresponde a uma nova era inaugurada como marco temporal geológico, como diz o químico Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel. As ações humanas na depredação da natureza fazem da espécie Homo sapiens uma força geofísica capaz de alterar as condições biotermodinâmicas do Planeta, na acidificação dos mananciais hídricos, nas mudanças climáticas e na redução da biodiversidade.

O prefixo Antropo relaciona-se às atividades do homem. Porém, não se engane. Ainda que trocasse o termo “homem” por “humanidade”, estaria longe de ser preciso. Não são todas as nações e povos do mundo que exploram a terra da mesma forma, ou melhor, não é todo
padrão de vida humana. Termos como “humanidade”, “nações”, “povos” podem dar a falsa ideia de igualdade homogênea no trato com a natureza.

A tentativa de dominação e de desenfreado explorar do meio ambiente como se fosse um recurso à disposição humana é a exata causa dos problemas ambientais. Os agentes que mais contribuem para o desmantelamento da natureza não são aqueles que irão senti-la de plano.
As desigualdades de sexo, raça, gênero e poder aquisitivo evidenciam um verdadeiro separatismo entre quem ocasiona e quem sofre os efeitos da Era do Antropoceno.

Tendo esse aspecto em mente, outra crítica contundente sobre a Era do Antropoceno reside na colocação da humanidade como sujeita preponderante em uma narrativa na qual se dissocia da natureza, fazendo-a de simples objeto. Em verdade, em verdade, te digo: a presença humana é um pequeno fragmento da narrativa do Planeta Terra, muito anterior ao surgimento de nossa espécie. Assim, a Hipótese de Gaia aquilata e complementa a ideia do Antropoceno.

Teoria pensada a muitas mãos, a Hipótese de Gaia tem no ambientalista James Lovelock e na bióloga Lynn Margulis as principais referências. Em palavras diretas, a separação entre mundo natural e mundo cultural do ser humano não existe, pois toda a existência, seja ela orgânica ou
não, tenderia a se unificar em homeostase. O Planeta possuiria um controle adaptativo que se defende em retroalimentação para o equilíbrio. A espécie que ameaça é eliminada.

Ou seja, os seres humanos – muito mais uns do que outros – têm cavado a cova de sua espécie ao tentar dominar a natureza, sem se reconhecer enquanto uma parte de um todo ambiental, na falsa expectativa de sermos mais importantes do que de fato somos. Obviamente parte da população mundial com mais recursos econômicos pode demorar a sentir os problemas ocasionados. Mas todas as pessoas irão presenciar os desastres.

E o ecofeminismo nisso tudo? Propõe soluções harmônicas ao indicar os valores tipicamente atribuídos ao feminino como o caminho para a nossa coexistência na Terra. O cuidado, enquanto parâmetro ético replicável por qualquer ser humano, é a ferramenta eficaz para nossa vida no Planeta, a Casa Comum. Por meio da retomada de antigas práticas em consonância com novas técnicas é possível enxergar um futuro que honre no presente o seu passado. A agroecologia, o conhecimento das plantas, os bioabsorventes, os biocosméticos e as formas de compostagem são alguns exemplos.

A chave principal para o entendimento ecofeminista diz que a cultura mais bem valorada pela nossa sociedade é assentada em valores patriarcais que privilegiam ações tipicamente associadas ao masculino, tais como, dominação, exploração, tomada de força, império do
poder sobre a natureza.

Vanessa Lemgruber é mestra em direito, advogada, mediadora jurídica e autora do livro Guia
Ecofeminista: mulheres, direito, ecologia (Ape’Ku).
Acompanhe Vanessa pelo instagram @ecofeminist.lab

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