A sexpert Maïa Mauzarette é colunista do jornal Le Monde e sua coluna é a mais lida do jornal. A Oficina Raquel traz uma coletânea inédita das suas melhores colunas ao Brasil.
Oficina Raquel: Como você avalia a recepção da sua coluna? Sabemos que este é uma das mais lidas. Mas você acha que as pessoas estão colocando em prática seus conceitos pré-sexuais construídos décadas atrás?
Maïa Mauzarette: É uma questão difícil: eu não posso (felizmente!) espionar o que as pessoas fazem em sua vida privada (tenho certa ideia de suas práticas em geral, a partir de estatísticas, mas não tenho ainda dados que revelem o impacto de minhas crônicas – o que seria, sem dúvida, divertido). Enquanto espero que eu consiga me teletransportar para o quarto de meus leitores e minhas leitoras, continuo humilde: as representações ligadas à sexualidade são milenares, necessariamente leva tempo para modificá-las. A contracepção data de apenas duas gerações atrás: mesmo que seja apenas para colocar a questão da sexualidade como lazer, tudo é muito novo. Fico às vezes frustrada, é claro, pois eu desejaria que as pessoas que estão entediadas, ou que acham que já tentaram de tudo, se questionassem. Mas também sei, porque recebo muitos e-mails, que as pessoas experimentam e renegociam após minhas crônicas: não uma em particular, mas seu acúmulo, semana após semana. E fico muito orgulhosa disso.
OR: Durante o processo de tradução e revisão do seu livro, tivemos muitas discussões interessantes e divertidas (muitas vezes online devido à pandemia). O propósito dessas colunas é fazer o leitor pensar levemente sobre as muitas possibilidades quando se trata de sexo?
MM: É claro ! E funciona. Sei que defendo um ponto de vista minoritário (sou especialista em sexo, não é uma expertise muito comum, e me definiria como muito reservada em relação à monogamia, e francamente queer em minhas utopias) … mas jamais procuro convencer . O que me interessa é a inteligência de leitores e leitoras – que fazem a segunda metade do trabalho, aquela que consiste em se posicionar em relação aos fatos e ideias que lhes ofereço. Eu não acho que estou “certa”. Em sexualidade, de qualquer maneira, o que isso significaria? Por outro lado, acho que proponho uma grade de leitura coerente do mundo (e isso já não é ruim) – uma grade sobretudo alegre e inventiva. Também gosto muito de abrir horizontes, abordar a sexualidade como cultura e não apenas como prática, como algo político e não apenas pessoal… Pode ser arrogante, mas acredito que meu trabalho seja útil. (Na pior das hipóteses, diverte o leitor!)
OR: Como você acha que está indo a vida sexual das pessoas durante o isolamento social e a pandemia?
MM: Na França, é muito equilibrado: um terço das pessoas está bem, um terço está infeliz, um terço não mudou seus hábitos. Também é irritante para mim porque nenhuma linha clara se delineia. Por outro lado, o que é interessante é o aumento das desigualdades: casais que já estavam bem estão se saindo melhor, casais que estavam mal estão piorando ainda mais. Solteiros aventureiros continuam suas aventuras, solteiros conservadores não encontram ninguém. A crise funciona como um indicador. Mas ficarei muito feliz quando sairmos disso.
OR: Você gostaria de mandar uma mensagem para o leitor brasileiro?
MM: Acima de tudo, gostaria de enviar-lhes minha compaixão: na França, acompanhamos muito as notícias do Brasil diante da pandemia. Não podemos (ainda) nos aproximar e segurar a mão de vocês, e sei que as minhas palavras não pesam, mas pelo menos: não somos indiferentes.
Confira o livro da Maïa através desse link: http://oficinaraquel.com.br/livro/o-sexo-segundo-maia-alem-das-ideias-aceitas/