Eu planejava começar este texto sendo direta ao convite da querida editora Raquel Menezes: falar mais sobre edição de textos e livros para áudio. Mas neste momento, em que a vida pessoal se misturou e condensou ao profissional, trabalho de casa, vejo o vazio das ruas pela janela e fumo um cigarro após o outro enquanto mexo no texto do que será nossa próxima aposta em audiosérie.
Sou editora. De livros. Há muito tempo. É sempre difícil pensar o texto, e falar sobre isso é ainda mais difícil. Mas recentemente, adicionei mais um degrau na edição de livros, quando assumi o departamento editorial da Storytel, a maior plataforma de audiolivros da Europa, que tive o prazer, junto a uma equipe incrível, de lançar no Brasil ano passado.
Lançar uma plataforma de audiolivros é ter a responsabilidade de escolher os melhores livros para um assinante sempre curioso e interessado, e configurá-los para um novo formato. E não, não cortamos pedaços e nem alteramos um livro para se tornar áudio: ele é narrado tal e qual foi projetado para a escrita. Quando existem gráficos ou notas, pedimos ajuda do editor para inserir estas informações de forma mais orgânica possível, para que o assinante não sinta a interrupção de um raciocínio durante a narração.
Nosso trabalho, mais dedicado ao trabalho da produção (aqui creditado ao Fernando Schaer, e ao Antônio Hermida) é nos certificar que o livro foi narrado completamente, sem que o narrador se impusesse sobre a obra e sem que a ideia principal do livro seja modificada.
Então, por que diabos eu estou debruçada sobre uma edição de texto, fumando mais cigarros do que deveria?
Porque é clichê. (risos, mentira).
Porque a Storytel é uma plataforma de audiolivros que trabalha com editoras parcerias para transformar seus livros em áudio. Mas também somos uma editora, e produzimos projetos próprios. Alguns de nossos originais ficaram bem famosos este ano, como Mulher Maravilha, de Chico Felitti, Casa Comigo , de Edney Silvestre e Angry Birds, os livrinhos infantis tão carismáticos. E estes projetos podem ser feitos através de parcerias com editoras para livros exclusivos em áudio de seus autores, ideias internas, licenças, projetos oferecidos por autores, roteiros e até audiovisual e audioséries. As possibilidades são muitas, mas ninguém discorda que o audiolivro é o movimento da vez.
O audiolivro é uma experiência única. Em um livro, o leitor cria certa intimidade com o autor e as páginas são momentos apenas dividido entre eles. No audiolivro, além do autor, há o narrador, um intermediário cujo papel maior é se tornar menor do que a história. Se o narrador se torna mais importante, a história de perde. É um papel traiçoeiro, assim como dizem ser o papel do editor: quanto menos sabem que mexemos no texto melhor é nosso trabalho no livro.
E no que mexo em um texto escrito somente para áudio? Bem, me certifico que as vozes dos personagens se diferenciam o máximo possível para facilitar a vida do narrador e fluir seu trabalho. Reviso. Tiro excessos, oriento a narração com comentários, edito qualquer trecho que narrado fique confuso, alinho as ideias e, principalmente, dou balanço à história,
separo os capítulos e confirmo se o desenvolvimento narrativo está balanceado durante
todo o livro.
E enquanto volto aos meus afazeres, convido aos leitores deste blog a acessar a Storytel e ouvir os livros da Oficina Raquel já disponíveis: meus favoritos são A cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão, e Toda comida tem uma história, de Joana Monteleone.
Por Mariana Rolier